Prova de Português
COMANDO DA AERONÁUTICA
ACADEMIA DA FORÇA AÉREA
CONCURSO DE ADMISSÃO 1999
CADERNO DE QUESTÕES DA PROVA DE PORTUGUÊS
CÓDIGO 04
Para responder às questões de 1 a 5, considere
o entendimento deste fragmento da obra indicada:
Algum tempo hesitei se devia abrir
estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
coisas me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro
berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: a diferença radical
entre este livro e o Pentateuco.
(obs.: os grifos são nossos)
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás
Cubas)
1. Uma palavra pode resumir a atitude de Brás
Cubas ao fazer analogia entre a gênese de seu livro de memórias e a do Pentateuco:
a) imitação.
b) presunção.
c) emulação.
d) superação.
2. Segundo Brás Cubas, a diferença
radical entre o Pentateuco e Memórias póstumas de Brás Cubas está neste
fato:
a) Moisés contou sua morte na narrativa
bíblica, mas Cubas não o fez no seu livro de memórias.
b) a morte do patriarca de Israel está no final do
Pentateuco, ao passo que a de Brás Cubas consta no início das Memórias póstumas.
c) o amante de Virgília pôs sua morte no epílogo
das Memórias, enquanto o condutor do povo judeu a omite na Sagrada Escritura.
d) Moisés relatou sua morte no final da Bíblia,
contrariamente ao criador do famoso emplastro, que o fez no intróito da sua narrativa.
3. Ao fazer irônico jogo de palavras com as
expressões defunto autor e autor defunto, Brás Cubas, o
personagem-narrador,
a) declara sua disposição de manter-se fiel ao
ideário realista, propondo não deformar os fatos e garantir a verossimilhança da
história.
b) propõe-se a ferir no cerne as idealizações
românticas, julgando e ironizando as contradições humanas, do pedestal de narrador
onisciente.
c) insinua, no início das memórias, seu
propósito de fazer uma narração desinteressada e imparcial, mas ao longo delas é
traído pelas fraquezas do indivíduo comum.
d) explora inusitada possibilidade narrativa,
manejando com mestria a técnica do distanciamento, para relatar a vida de um herói (ele
próprio) empenhado na afirmação da própria vontade.
4. Observe os elementos grifados destas
expressões do texto:
I ... autor defunto ...
II ... defunto autor ...
III ... duas coisas ...
IV ... a primeira é que
...
V ... levaram a adotar
...
Dir-se-á que, no plano morfológico, as palavras
destacadas são, respectivamente,
a) adjetivo, substantivo, numeral cardinal,
numeral ordinal, preposição.
b) substantivo, adjetivo, numeral ordinal, numeral
cardinal, pronome pessoal.
c) adjetivo, adjetivo, numeral cardinal, numeral
ordinal, pronome demonstrativo.
d) substantivo, substantivo, numeral ordinal,
numeral cardinal, artigo definido.
5. As orações destacadas no texto classificam-se,
respectivamente, como
a) oração principal, oração subordinada
adverbial condicional, oração subordinada substantiva predicativa.
b) oração principal, oração subordinada
substantiva objetiva direta, oração subordinada substantiva predicativa.
c) oração coordenada assindética, oração
subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada adjetiva restritiva.
d) oração subordinada adverbial temporal,
oração subordinada substantiva predicativa, oração subordinada adjetiva restritiva.
6. Questionando os modelos ideológicos e
literários importados, Machado de Assis ironiza as teorias filosóficas em voga, na
época, fazendo o humanitismo permear algumas de suas obras da chamada fase
realista.
Assim, é correto afirmar que
a) o grande mentor do humanitismo é
Quincas Borba; esse sistema filosófico aparece teorizado pela primeira vez em Memórias
póstumas de Brás Cubas e é retomado em Quincas Borba.
b) Brás Cubas é o introdutor desse sistema, na
medida em que sugere vagamente a teoria em Memórias póstumas de Brás Cubas, a
qual será mais bem desenvolvida em D. Casmurro.
c) Rubião é o pai do humanitismo; em
Quincas Borba, esse personagem ilustra a teoria em foco, apresentando a demência de
Quincas Borba como decorrência de conturbado triângulo moroso.
d) Bentinho é o principal articulador dessa
teoria, mas é preciso considerar que quase todos os personagens maiores de Machado
revelam sutil postura de crítica à pieguice e ao idealismo dos valores burgueses.
7. Fui aos alforjes, tirei um colete
velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e durante esse tempo cogitei se não
era excessiva a gratificação, se não bastavam duas moedas.
(M.A., Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Marque a opção que transpõe para o discurso
direto o trecho que, no excerto acima, aparece em discurso indireto.
a) - A gratificação é excessiva! Não
bastariam duas moedas?
b) - Se duas moedas são bastantes, a
gratificação é excessiva.
c) - Bastam duas moedas; portanto a gratificação
é excessiva.
d) - Não é excessiva a gratificação? Não
bastam duas moedas?
Considere este excerto de Memórias
póstumas de Brás Cubas para responder à questão 8.
Talvez espante ao leitor a franqueza com
que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira
virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta
das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os
remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da
obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo,
porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é
um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a
gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se,
despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque,
em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos;
não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo
que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não
examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores
vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.
8. Dando de barato a viabilidade da tese do
narrador, assinale a opção cuja assertiva corresponde à afirmação (I, II e III) que a
segue, considerando que
I expressa afirmação(ões)
compatível(eis) com o texto;
II contém afirmação(ões)
incompatível(eis) com o texto;
III registra afirmação(ões)
contradizente(s) ao texto.
a) O parecer (exterioridade) rege a vida; o ser
(essência) só é encontrável na
morte. (I)
b) A atitude dos mortos é governada pela
autenticidade, enquanto a dos vivos prima pela dissimulação. (II)
c) A oposição entre a visão de mundo dos vivos e
a dos mortos pode ser resumida, respectivamente, pelo par dicotômico
desafetação/afetação. (I)
d) Vida assume conotação negativa,
vinculada a termos como embaçar, hipocrisia, cobiça;
por seu turno, morte é nome positivo, ligado a liberdade,
desabafo, despintar-se. (III)
9. O texto abaixo consta de uma das narrativas
indicadas para este concurso. Analise-o quanto à correção gramatical e marque a
assertiva correta.
- É um vadio e um bêbado muito grande.
Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a
quitanda para ir na venda beber.
a) O texto está inatacável quanto à
correção gramatical.
b) Trata-se de uma das numerosas ousadias
gramaticais da obra em pauta, próprias do informalismo do estilo modernista.
c) É um excerto insólito da obra, vazada esta em
padrão lingüístico culto, e só se justifica pela preocupação do autor em reproduzir
o falar inculto.
d) O fragmento é ocorrência comum ao longo da
narrativa e se explica pelo propósito do autor de (re)criar uma linguagem que o
instrumente na busca de fundir o mais regional ao mais universal.
10. Leia os excertos, atentando para a palavra ressaca.
I A ressaca que há cinco dias
castiga o Rio de Janeiro já dá sinais de melhora. (O Estado de São Paulo,
25.5.99)
II Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.
(...) Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para
dentro... (Machado de Assis, D. Casmurro)
III Pois a grande questão é saber se
hoje, diante do Corinthians, estará o Palmeiras de Paulo Nunes ou o Palmeiras de Alex,
que deve ser também o de Luís Felipe. Pelo que conheço do treinador, ele não vai
admitir máscara, salto-alto ou ressaca da Libertadores. (O Estado de São
Paulo, 20.6.99)
IV Não era fácil ao juvenil
imperador manter-se firme e popular na procela dos partidos e na ressaca das
opiniões. (Latino Coelho)
Sabe-se que muitas vezes, na polissemia, o sentido
das palavras tende a se afastar da base semântica, tornando difícil estabelecer a
relação polissêmica. Assim, dentre os casos acima, pode-se constatar que o menor
afastamento de sentido ocorre entre
a) I e II.
b) III e IV.
c) I e IV.
d) II e III.
11. Assinale a frase em que a crase se justifica
pela mesma regra daquela assinalada no texto abaixo.
De repente, a criada, que estava na outra
sala, ouvindo rumor de alguma cousa que se quebrava, correu à de visitas, e viu a ama,
sozinha, de pé.
(M. Assis, Quincas Borba)
a) A decisão do bando foi favorável à
libertação de Zé Bebelo.
b) Das filhas do velho fazendeiro, Riobaldo
dirigiu-se à mais tímida.
c) A passos lentos todos se dirigiram à sala
principal para assistir ao interrogatório.
d) Acoitados no velho casarão, os jagunços
ficaram à espera da arremetida dos hermógenes.
12. Leia estas frases, atentando para a
colocação do sujeito e do verbo.
I Como se enganam os médicos!
II Como os médicos se enganam!
Dir-se-á, de acordo com o gênio da língua, que
a) I e II são passivas.
b) I e II são reflexivas.
c) I é passiva e II é reflexiva.
d) I é reflexiva e II é passiva.
Tem-se a seguir um fragmento de Grande
sertão: veredas, obra indicada para este concurso. Leia-o atentamente e, considerando
o conhecimento da narrativa como um todo, responda às
questões de 13 a 16.
Sapateei, então me assustando de que nem
gota de nada sucedia, e a hora em vão passava. Então, ele não queria existir?
Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace desse passo. Digo direi, de verdade: eu
estava bêbado de meu. Ah, esta vida, às não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente,
esta vida é grande. Remordi o ar:
- Lúcifer! Lúcifer!... - aí eu
bramei, desengulindo.
Não. Nada. O que a noite tem é o vozeio dum
ser-só - que principia feito grilos e estalinhos, e o sapo-cachorro, tão arranhão. E
que termina num queixume borbulhado tremido, de passarinho ninhante mal-acordado dum
totalzinho sono.
- Lúcifer! Satanaz!...
Só outro silêncio. O senhor sabe o que o
silêncio é? É a gente mesmo, demais.
- Ei, Lúcifer! Satanaz, dos meus
Infernos!
Voz minha se estragasse, em mim tudo era cordas e
cobras. E foi aí. Foi. Ele não existe, e não apareceu nem respondeu - que é um falso
imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a conforme a ciência da noite
e o envir de espaços, que medeia. Como que adquirisse minhas palavras todas; fechou o
arrocho do assunto. Ao que eu recebi de volta um adejo, um gozo de agarro, daí umas
tranqüilidades - de pancada. Lembrei dum rio que viesse adentro a casa de meu pai. Vi as
asas, arquei o puxo do poder meu, naquele átimo. Aí podia ser mais? A peta, eu querer
saldar: que isso não é falável. As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca.
Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!
13. A idéia subjacente a esse excerto, assim
como em toda a obra, revive um tema recorrente na arte literária, desde o Renascimento.
Trata-se do mito de
a) Fausto.
b) Sísifo.
c) Narciso.
d) Prometeu.
14. No primeiro parágrafo do texto, percebe-se
uma sucessão de estados, sentimentos e sensações assoberbando a mente da personagem.
Sem pretender esgotar os elementos da sucessão, pode-se alinhar os seguintes, na ordem:
a) histeria, susto, angústia, agonia, dúvida,
devaneio.
b) nervosismo, perplexão, impaciência, dúvida,
provocação, reflexão.
c) ansiedade, nervosismo, desespero, histeria,
espanto, impaciência.
d) impaciência, espanto, incerteza, perplexão,
angústia, coragem.
15. Os acontecimentos relatados nesse excerto,
ao lado de outros que surgem na trama, justificam o pensamento que atormenta o narrador ao
longo da narrativa:
a) a dúvida sobre ter-se tornado
pactário.
b) a certeza a respeito da existência de Deus e do
diabo.
c) a convicção da necessidade de aliar-se ao mal
para combater o mal.
d) a consciência de que se pode vender algo mesmo
não havendo comprador.
16. Observe as palavras em destaque nos excertos
abaixo.
I O que a noite tem é o vozeio dum
ser-só - que principia feito grilos e estalinhos...
II Me ouviu, a conforme a ciência da
noite e o envir de espaços, que medeia.
Trata-se de um verbo regular (I) e de outro
irregular (II) que, por isso, identificam-se, respectivamente, com o par:
a) arriar e odiar.
b) ansiar e variar.
c) odiar e remediar.
d) incendiar e alumiar.
17. Em Grande sertão: veredas, como em Os
sertões, observa-se a presença dominadora de três elementos estruturais que apóiam
a composição: a terra bruta; o homem endurecido pela rude lida no sertão; a luta
épica.
A partir dessa assertiva, pode-se dizer que
a) pára aí essa identidade, porque, enquanto
em Os sertões a contínua trança desses três elementos afasta qualquer hipótese
cientificista, em Grande sertão: veredas, o enredo evolui linearmente, pondo a nu
a preocupação rosiana em comprovar a tese de Taine: o meio, a raça e o momento
histórico determinam o comportamento humano.
b) a intertextualidade dessas obras está garantida
não apenas por essa semelhança básica, mas também pelas intenções deterministas de
ambos os autores ? particularmente de Euclides da Cunha ? os quais, imprimindo um lirismo
épico à narrativa, buscam particularizar o espaço, que lhes vai servir de laboratório
para dissecar a proposta de sociologia naturalista.
c) essa semelhança projeta-se além disso, visto
que em Euclides tudo assume significado universal, consoante com os preceitos
deterministas, subtraindo o ensaio à matriz local e sugerindo que o Sertão é o Mundo,
ao passo que em Rosa sobressai o enfoque do pitoresco, do regional, mercê da fidedigna
abordagem da flora, fauna e topografia dos confins das Gerais.
d) não vai além disso essa analogia, pois,
enquanto a trama rosiana apresenta um constante baralhamento desses três elementos numa
atmosfera de sugestão instigadora da sensibilidade e da imaginação, o ensaio
euclidiano, engendrado sob a égide determinista, evolui de forma racional e sucessiva,
marcado por constatações científicas reforçadoras da argumentação em prol da tese de
Taine.
18. Observe estes fragmentos de Grande sertão:
veredas, considerando as palavras grifadas.
I Pois essezinho, essezim, desde que
algum entendimento alumiou nele, feito mostrou o que é.
II ...Cristo mesmo lá só conseguiu
aprofundar por um relance a graça de sua sustância alumiável, em as trevas de
véspera para o Terceiro Dia.
III Vivi puxando difícil de difícel,
peixe vivo no moquém: quem mói no aspro, não fantaseia.
Os vocábulos em grifo se justificam na medida em
que o autor tenciona
a) reproduzir o falar canhestro da personagem.
b) reconstruir na escrita a variante lingüística
regional.
c) mesclar neologismos e barbarismos para imprimir
mais verosimilhança ao processo narrativo.
d) usar a obra como mais uma bandeira da sua tese
de renovação lingüística, propugnada desde a publicação de Sagarana.
19. Observe o período:
Diadorim e Riobaldo eram jagunços asseados, mas
ninguém os via tomar banho juntos, no riacho.
A respeito de sua estrutura morfossintática, é
correto dizer que
a) ambos os pronomes exercem função de
sujeito.
b) a oração reduzida tem papel de objeto
indireto.
c) se trata de período composto de duas orações.
d) a não-flexão do infinitivo constitui
violação da norma culta.
20. Marque a opção em que o adjunto adnominal
do objeto direto assume valor estilístico de adjunto adverbial.
a) O catrumano fez reluzir uma faca traiçoeira
no calor da refrega.
b) Na quietude orvalhada da manhã do Alto Urucuia,
a nota dissonante é o coaxar do sapocururu.
c) Fumando um cigarro lânguido, a mulher-dama do
Verde-Alecrim tenta seduzir o jagunço atoleimado.
d) Braços desconsolados daquela gente do Chapadão
erguem-se ao céu quase sem nuvens, em dramático apelo.
21. Observe este excerto de A rosa do povo,
de Carlos Drummond de Andrade:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser
escritos.
Trata-se de uma evidência - e não é a única no
livro - de que o Drummond combativo e socializante de A rosa do povo também está
preocupado com o (a)
a) ludismo.
b) erotismo.
c) metafísica.
d) metapoesia.
22. Considere estes excertos:
I Peço passagem aos
lentos. Não olho os cafés
que retinem xícaras e anedotas,
como não olho o muro do
velho hospital em sombra.
(Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo)
II Agora as cercas de Bom-Sucesso
iam comendo São Bernardo.
(Graciliano Ramos, São Bernardo)
Há em I e II, respectivamente, estas figuras:
a) sinestesia e metáfora.
b) hipérbole e hipérbole.
c) metonímia e prosopopéia.
d) personificação e comparação.
23. Observe este poema de Drummond:
A morte emendou a gramática
Morreram Cacilda Becker
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Pirassununga
Cleópatra e Antígone
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
(...)
Sobre ele, pode-se afirmar que
a) Drummond faz uma reflexão a respeito da
polemizante tese de que o verdadeiro artista ludibria a morte, eternizando-se em suas
personagens.
b) o poeta vê, no desaparecimento da atriz, grande
perda para o vernáculo, já que suas performances cênicas sempre primaram pelo
padrão culto da língua, especialmente quando personificou a Professorinha pobre de
Pirassununga.
c) o passamento de Cacilda é pretexto para
Drummond expressar sua concepção do poético, por analogia com a arte cênica, como um
texto aberto, com multiplicidade de sentidos, um metapoema, portanto.
d) o verbo emendar, no primeiro verso,
pode ser substituído por corrigir: a morte corrige a gramática na medida em
que, com a construção morreram Cacilda,
o autor expressa a simbiose da atriz com as
personagens vividas por ela ao longo de sua carreira.
24. Observe este excerto:
Os craques Edmundo e Romário estiveram
jogando algumas temporadas no futebol europeu.
Estão atuando no Japão numerosos craques
brasileiros de primeira categoria.
Vários outros jogadores revelados na atual
temporada brasileira estão sendo sondados por empresários do exterior.
O Brasil é um respeitável exportador de talentos
futebolísticos.
Dir-se-á que esse escrito
a) não tem textualidade.
b) tem textualidade garantida pela coesão.
c) tem textualidade garantida pela coerência.
d) tem textualidade garantida pela coesão e
coerência
25. Leia atentamente:
(...)
Foi bom que te calasses.
Meditavas na sombra das chaves,
das correntes, das
roupas riscadas, das
[cercas de arame,
juntavas palavras duras,
cimento, bombas,
[invectivas,
(...)
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos
e teu bigode caminham numa
estrada de pó e esperança.
(C.D.A., A rosa do povo)
Diremos que, nesse fragmento,
a) observam-se os paralelismos sintático e
semântico e obtém-se apreciável efeito estilístico.
b) observam-se os paralelismos sintático, rítmico
e semântico, privilegiando a clareza e a lógica do raciocínio.
c) rompem-se os paralelismos sintático e rítmico,
gerando idéias desconexas, mas coerentes do ponto de vista literário.
d) rompe-se o paralelismo semântico, em bom
estilo, ao se criarem imagens pela associação de termos inconciliáveis à luz da
lógica.
Observe este excerto de São Bernardo, para
responder às questões 26 e 27.
D. Glória retificou a espinha, ergueu a
voz e desfez o ar apoucado:
- Não me dou. Nasci na cidade, criei-me na cidade.
Saindo daí, sou como peixe fora da água. Tanto que estive cavando transferência para um
grupo da capital. Mas é preciso muito pistolão. Promessas...
26. Nesse trecho, os dois-pontos e as
reticências são empregados, respectivamente, para
a) introduzir uma transcrição literária;
indicar ironia.
b) iniciar uma explicação ou esclarecimento do
interlocutor; sugerir uma brusca interrupção da frase.
c) anunciar a entrada do interlocutor; indicar o
término da frase que deve ser imaginado pelo leitor.
d) isolar do restante do texto os pensamentos ou
falas da personagem; expressar a interrupção da fala nervosa e desconexa.
27. As palavras do texto desfez, apoucado
e pistolão são formadas, respectivamente, por
a) derivação regressiva, derivação prefixal,
composição por justaposição.
b) derivação prefixal, derivação
parassintética, derivação sufixal.
c) derivação parassintética, derivação
regressiva, derivação imprópria.
d) derivação parassintética, composição por
aglutinação, derivação imprópria.
28. Leia:
São Bernardo faz interagir, como num
jogo, dois modos de focalizar a narrativa: de um lado o modo próprio, auto-suficiente e
pragmático do fazendeiro; de outro, o modo de narrar de Paulo Honório-escritor, feito de
hesitações, dúvidas e interrogações, as quais ele partilha com o
leitor. A dupla focalização se explica pelos tempos diferentes em que um e outro
se encontram.
(Lúcia H. Vianna, Roteiro de leitura: São
Bernardo de Graciliano Ramos)
Os termos grifados, as quais, ele
e um e outro, resgatam, respectivamente, estes elementos do excerto:
a) interrogações;
escritor; modos de focalizar a narrativa.
b) modos de focalizar a narrativa;
Paulo Honório; escritor e leitor.
c) dúvidas e interrogações;
fazendeiro; fazendeiro e escritor.
d) hesitações, dúvidas e
interrogações; Paulo Honório-escritor; escritor e
fazendeiro.
29. Quanto ao modo de narrar, São Bernardo
é exemplo de construção em abismo. Com base nessa assertiva, pode-se
afirmar que não é característica desse tipo de construção:
a) acompanhamento do processo de construção da
narrativa, pelo leitor.
b) jogo de reflexos entre a história contada e as
intervenções críticas do verdadeiro autor.
c) personagem com função de autor, fato que
produz para o leitor o efeito de que se tem um livro dentro do livro.
d) linguagem narrativa voltada para si mesma,
procedimento de auto-referência que caracteriza o exercício da metalinguagem.
30. Atente para a predicação destas frases:
I A capela da fazenda S. Bernardo está
reformada.
II A capela da fazenda S. Bernardo foi
reformada.
Dir-se-á que se tem predicado
a) verbal em I e II.
b) nominal em I e II.
c) verbal em I, nominal em II.
d) nominal em I, verbal em II.
31. Assinale a frase de São Bernardo
cuja pontuação foi intencionalmente alterada, tornando-se, por isso, incorreta.
a) É um corujão da peste, seu Paulo.
b) O algodoal galgava colinas, descia, tornava a
mostrar-se mais longe, desbotado.
c) O capim-gordura tinha virado grama e os bois que
pastavam nele eram como brinquedos de celulóide.
d) Li a folha pela terceira vez, atordoado,
detendo-me nas expressões claras e procurando adivinhar a significação de termos
obscuros.
32. Leia este fragmento de São Bernardo,
atentando para o pronome grifado.
Azevedo Gondim reclamava liberdade, aos
gritos. Contenta-se hoje com a renda mofina do jornal e deve os cabelos da cabeça.
Conforma-se com isso.
O pronome em questão faz parte do grupo de
instrumentos lingüísticos que retomam partes do discurso e promovem a coesão textual.
Nesse trecho, refere-se à(s)
a) liberdade outrora reclamada ao brados.
b) acomodação do jornalista no presente, advinda
de percalços e frustrações do passado.
c) dívidas e à renda ordinária provinda do
jornal, com a qual Gondim se contenta atualmente.
d) dívidas geradas pelo salário mofino que Gondim
recebe do jornal, com o qual se conforma nesse momento da vida, apesar de ter protestado
no passado.
33. Aponte a alternativa em que há falha(s) na
acentuação da(s) forma(s) verbal(ais).
a) Os capangas vêem o estouro da boiada pelos
buracos da parede de taipa e não contêm um riso de satisfação pelo prejuízo do chefe.
b) Marciano não pôde trabalhar porque estava
doente, e isso mais me aborreceu porque todos os de casa sempre apóiam os achaques desse
velho malandro.
c) D. Glória, atarefada com os preparativos,
gritou para as negrinhas: - Enquanto eu pélo o leitão para o banquete, é bom que vocês
ágüem os gerânios da varanda.
d) Com os olhos brilhando de maldosa satisfação,
o patriarca redargüiu: - Se ganharmos a eleição, esse maldito vizinho pára de por
minhocas na cabeça dos nossos empregados.
34. Marque a opção em que está correta a
flexão verbal.
a) Diante do corpo sem vida de Diadorim,
Tatarana não cria no que seus olhos viam: era uma moça!
b) Quando você rever seus conceitos de criação
literária, aceitará melhor a obra de Guimarães Rosa.
c) Brás Cubas interviu prontamente, e o escravo se
viu livre do açoite que lhe impunha o outro negro.
d) Se o Congresso propor alguma emenda ao projeto
presidencial, certamente a matéria não será mais votada neste ano.
35. Marque a alternativa em que há adjetivo no
grau comparativo de superioridade sintético.
a) Uns poucos imaginavam a filosofia de Quincas
Borba avançadíssima para a época.
b) A rosa do povo pode ser considerada como
a obra mais socializante de Drummond.
c) O sentimento amoroso de Diadorim talvez fosse
menor que seu desejo de matar Hermógenes.
d) O negligente Luis Padilha cuidava cada vez menos
de suas posses, e mais sinais de abandono apareciam em São Bernardo.
36. Atente para a concordância das frases
abaixo, assinalando o par inatacável.
a) I Provavelmente haveriam crimes no
passado de Casimiro Lopes.
II Em criança, Brás Cubas era as alegrias
da casa.
b) I Era necessário novas máquinas para o
descaroçador e para a serraria.
II Vão fazer dois anos que Madalena morreu,
dois anos difíceis.
c) I Mais de um jagunço manifestaram-se a
favor de Riobaldo e contra Zé Bebelo.
II Mais de um oficial, mais de um soldado
recebeu ferimentos na batalha.
d) I A ofensiva da atual primavera na
Caxemira veio com força inusitada, e o resultado foram os bombardeios iniciados na
quarta-feira passada.
II Verificam-se bastantes erros
metodológicos no trabalho.
37. Assinale a alternativa que completa
corretamente as lacunas das frases:
I Bentinho é um tipo de narrador ______
isenção de ânimo não se pode confiar.
II Paulo Honório, ______ Casimiro Lopes
obedece, atribui-lhe mais uma perigosa missão.
III Carlos Drummond de Andrade é o escritor
______ poemas de caráter social a crítica sempre se ocupará.
IV Virgília, ______ Brás Cubas amava,
comprovou que as mulheres têm uma certa queda pelos tolos.
a) cuja / a que / de cujos os / que
b) da qual / a que / nos quais / a que
c) em cuja a / ao qual / cujos / à qual
d) em cuja / a quem / de cujos / a quem
Observe este excerto e responda à questão 38.
Sociólogo garante não existir segregação racial
nos blocos do carnaval de Salvador, destacando que a folia reflete a tolerância racial
reinante na sociedade baiana. Afirma, também, que lá se tem não apenas uma intensa
convivência entre as raças, mas também mecanismos que permitem colocar cada um no seu
devido lugar.
38. A respeito desse escrito, pode se afirmar:
a) está gramaticalmente correto, mas peca pela
incoerência.
b) é coeso e coerente, mas apresenta ambigüidade
gerada pelo mau uso do pronome possessivo.
c) apresenta falhas de gramática e de coesão, mas
é inatacável quanto à clareza e à coerência.
d) revela incompatibilidade do ponto de vista da
variante lingüística escolhida e falhas de estruturação do discurso indireto.
39. Observe as frases:
I Naquela noite Tatarana adormeceu com o
pensamento em Otacília e teve os sonhos mais ternos que jamais sonhara.
II Paulo Honório manteve uma aventura
amorosa com Germana, a quem conhecera num velório.
Em I e II os termos em destaque exercem,
respectivamente, a função sintática de
a) objeto direto e objeto indireto.
b) objeto indireto e objeto indireto.
c) objeto indireto e objeto direto pleonástico.
d) objeto direto interno e objeto direto
preposicionado.
40. Observe as frases quanto à regência:
I O tablóide londrino Gossips, com duas
edições diárias, entende melhor do que ninguém de fofocas.
II No horário previsto, a cerimônia foi
iniciada com a entrada no salão
nobre da universidade dos professores aposentados.
III Oferece-se oportunidade a moça de boa
aparência, inteligente e fluente em francês, de acompanhar idoso em temporada de
convalescença nos Alpes.
As frases I, II e III estariam mais
bem estruturadas se houvesse nelas
a) uso adequado das preposições.
b) observância da correta pontuação.
c) contigüidade entre regente e regido.
d) compatibilidade semântica entre subordinante e
subordinado.